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Porto Olímpico / E esta, agora: "A juíza Maria Teresa Pontes Gazineu, da 2ª Vara da Fazenda Pública da Capital, acolheu os pedidos do Ministério Público estadual e anulou o resultado do concurso público “Porto Olímpico” relativamente ao primeiro e ao segundo colocados. O pedido liminar feito pelo MP deve-se ao fato de João Pedro Backheuser e Flavio Oliveira Ferreira, respectivamente primeiro e segundo colocados na licitação, serem membros do Conselho Deliberativo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) que foi a entidade responsável pela organização e realização da licitação."  (do site do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro: http://portaltj.tjrj.jus.br/web/guest/home/-/noticias/visualizar/76403)
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Rio +20 / Entre 11 e 15 de junho, a PUC hospeda o "Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável", como parte dos eventos preparatórios para a Rio+20: http://www.icsu.org/rio20/science-and-technology-forum/about
As sessões principais serão fechadas - e exibidas em telões espalhados pelo campus - mas os eventos paralelos serão abertos ao público em geral.
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Forte de Copacabana / Quem não vai querer entrar numa dessas caixas suspensas sobre o mar? Pra garantir acesso à estrutura projetada por Carla Juaçaba em colaboração com Bia Lessa, em todo caso, é bom se inscrever logo no Fórum de Empreendedorismo Social, que acontece lá durante a Rio+20, com várias atividades abertas ao público: http://www.empreendedorismosocial.org.br/index.php?lang=br

Os organizadores estão prevendo um público diário de 10.000 pessoas e avisam que não haverá estacionamento no local. Mas o metrô da Praça Gal.Osório fica bem próximo, e uma caminhada pela praia, saindo do Posto 12, ou do Leme, também não é má idéia.
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Rio + 20 / Quem passa pela praia de Copacabana vê surgir a obra mais recente da arquiteta Carla Juaçaba: uma imensa estrutura metálica, em construção no Forte de Copacabana, destinada a abrigar reuniões e exposições durante a Rio+20. O projeto, assinado com a cenógrafa Bia Lessa, se insere na linhagem da arquitetura visionária encabeçada por Cedric Price (Fun Palace, em Londres), Yona Friedman (Paris Espacial) e pelo grupo Archigram, nos anos 60.


Trata-se basicamente de uma estrutura treliçada, leve e portante, que hospeda caixas/cápsulas intercambiáveis e igualmente leves - de painéis de madeira, no caso -, suspensas do chão. Todos os elementos construtivos são pré-fabricados, de pequenas dimensões, e foram articulados para serem montados, desmontados, transportados e remontados, mobilizando estratégias de reaproveitamento. Mas aqui a estrutura - toda feita de andaimes - se concretiza e atualiza, à escala da paisagem carioca: 170x 40 m, com 25 m de altura. O resultado é de tirar o fôlego: o cruzamento do viés mais ficcional da arquitetura pop com o horizonte azul de Copacabana, e o Pão de Açúcar ao fundo. É algo que vai durar pouco ali - não mais que um mês - mas que já figura com destaque dentro do quadro que também vai se construindo da arquitetura contemporânea no Rio de Janeiro.

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Legado / Shohei Shigematsu (OMA, NY) abriu sua palestra na PUC, sexta passada, com a imagem de uma carta enviada por “some angry people from Rio” a seu sócio, Rem Koolhaas, no ano passado. Custei um pouco a perceber que se tratava do protesto que assinei com um pequeno grupo de alunos e professores, após sua última passagem pela cidade.


Segundo Shohei, a carta foi recebida com surpresa, mas foi também o motivo pelo qual ele decidiu apresentar-se na PUC agora, em sua primeira passagem por uma escola de arquitetura no Rio. Depois da palestra, entre (muitas) caipirinhas no Baixo Gávea, discutimos se o legado dos grandes eventos para os quais a cidade se prepara pode não ser um projeto ou uma edificação, propriamente, mas uma mudança de pensamento e de postura no meio da arquitetura local, a começar pelas escolas de arquitetura.


Parece óbvio, mas é bom não esquecer o quanto o papel das escolas, neste momento, é fundamental. E se muitos projetos que temos visto para o Rio não tem a qualidade que gostaríamos que tivessem, e talvez não sejam capazes de provocar uma mudança efetiva na cultura arquitetônica local, quem sabe a presença cada vez mais freqüente de tantos arquitetos estrangeiros, em palestras e workshops com estudantes, possa produzir o legado pelo qual devemos – e podemos, de fato - trabalhar neste momento.

A palestra de Shohei, aliás, foi brilhante - e abriu um abismo em relação à maioria das apresentações de arquitetos estrangeiros que temos visto por aqui. Em vez de imagens espetaculares e de um discurso pronto e acabado em defesa de uma arquitetura da qual nunca se vêem os problemas, o que vimos foram muitos mapas, diagramas e maquetes toscas e sem acabamento refinado, que falam muito mais de um exercício aberto - pensamento-obra -, que de uma obra concluída. Nenhuma frase de efeito, nenhuma instrução. Muito mais problemas e desafios que soluções, enfim, e um delicioso tom irônico e provocativo em tudo - culminante no Instituto Marina Abramovic, em Nova York, projetado para abrigar suas delirantes performances de longa duração.

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Concursos / Depois de um ano e meio, saiu o primeiro lote de contratações do  Morar Carioca, concurso público realizado pelo IAB-RJ em 2010, em parceria com a prefeitura do Rio, visando a urbanização de mais de 200 favelas até 2020.  A assinatura dos contratos entre a Secretaria Municipal de Habitação e dez escritórios de arquitetura foi feita dia 27 passado, e permite que pelo menos uma parte dos projetos seja iniciada.

Os escritórios que assinaram contratos são: Insite Arquitetos; Hector Vigliecca e Associados; Agrar Consultoria e Estudos Técnicos; Humberto Kzure-Cerquera; Arqhos Consultoria e Projetos; Flávio Ferreira Arquitetura e Urbanismo; Corcovado Arquitetura e Urbanismo; Napp – Claudia Brandão de Serpa, Atelier Metropolitano e LVA Estrutura e Desenvolvimento Empreendimentos Urbanos. Somados ao escritório Heitor Derbli Arquitetos Associados, que já tinha sido contratado, são 11 dos 40 selecionados no concurso.

Por coincidência, a assinatura dos contratos ocorreu no mesmo dia do anúncio da ação movida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro para anulação do concurso do Porto Olímpico ( http://concursosdeprojeto.org/2012/04/28/ministerio-publico-pede-anulacao-do-concurso-do-porto-olimpico-no-rio/ ), à qual o IAB respondeu esta semana com um comunicado que pode ser lido aqui: http://www.iabrj.org.br/nota-publica-do-iab-rj-sobre-o-concurso-porto-olimpico
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Agenda / Duas palestras movimentam o campus da PUC esta semana, abrindo as comemorações pelos 10 anos do Curso de Arquitetura: amanhã, terça, tem o arquiteto e designer italiano Piero Missoni (às 10:30, no auditório Padre Anchieta), e sexta, o arquiteto Shohei Shigematsu (sócio de Rem Koolhaas e diretor do OMA-Office for Metropolitan Architecture em Nova York), às 19:00, no auditório do RDC.




Posto 05 /12


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Compartilhe Felicidade / Fui, com chuva e tudo. E foi bem mais fácil do que eu pensava. Bastou pegar um trem na Central, descer quatro estações depois e pegar o teleférico ali mesmo. Não precisei comprar outro bilhete, nem abrir o guarda-chuva. O que veio em seguida é que estou até agora digerindo. Um vôo rasante de cerca de 40 minutos sobre o Complexo do Alemão, num teleférico vermelho suspenso por cabos de aço, com a Baía de Guanabara e o Porto Maravilha ao fundo.

Os carrinhos vão e vem, sem parar. Dá uma certa tensão entrar e sair, mas a velocidade é tal que não há grande dificuldade. A não ser para uma senhora com compras, ou uma mãe com carrinho de bebê, penso. Mas também não sei, porque todos no meu carrinho eram turistas, com câmeras em punho, como eu.


Lembrei logo da Disney: lá também pulávamos dentro de um carrinho que nos levava num giro por uma realidade fantástica (e muitas vezes ameaçadora), da qual não raro me senti uma mera espectadora - e enquanto durou o percurso, confesso, também refém. Até as dimensões são mais ou menos as mesmas; aqui o carrinho tem 6 lugares. Parece um nada diante do fluxo de massa que imagino diante daquele mar de casas? A julgar pelo que vi, não: no meu carrinho, éramos 4 na ida e 3 na volta, e muitos outros estavam vazios (por volta do meio-dia de uma segunda-feira).

Mas que bobagem, o Alemão não tem nada a ver com a Disney. Nem mesmo com todos aqueles corações colados aos carrinhos, e todas aquelas mensagens otimistas (“compartilhe felicidade”, “aqui a alegria é contagiante”). E o quiosque da Kibon que me espera na estação mais alta - onde o que posso fazer senão tomar um picolé?

Na volta, penso de novo na senhora que sobe com as compras, na mãe com carrinho de bebê...Ok, o teleférico não é pra elas, é pra mim. E pra quem trabalha, não? No centro da cidade, imagino. Porque como o percurso é em linha – começa e termina em Bonsucesso -, imagino que num ou noutro sentido possa ser tão ou mais fácil subir e descer de van, de moto, ou mesmo a pé (da Fazendinha para o Engenhão, por exemplo, ou para Jacarepaguá).

Vou descendo e contando as estações, conforme elas vão despontando sobre os pontos mais altos da região e contracenando com a igrejinha da Penha, que antes dominava esta paisagem. Todas seguem um mesmo padrão, com variações de cores fortes: um bloco compacto, de alvenaria, encimado por uma cobertura tensionada branca - num esquema curiosamente análogo ao do New York City Center, shopping que trouxe a Estátua da Liberdade para a Barra da Tijuca. Mas não é isso o que me incomoda. Talvez a limpeza excessiva, que contrasta com as montanhas de lixo que vejo por todo lado lá de cima. Talvez a ausência completa dos expedientes de sobrevivência que lotam os trens da Central (onde foram parar os ambulantes ruidosos, com suas promoções incríveis?). Talvez os vasos de planta, cuidadosamente dispostos nos patamares das escadas largas e vazias. Não chega a ser o desvario do Elevador do Cantagalo, em Ipanema, mas tudo aqui soa meio artificial. Até a bela égua que pula na minha frente, de repente, em contraste com os vira-latas que vagam em torno da estação Palmeiras.

Talvez meu maior problema seja com a simetria e o sentido de composição que rege a arquitetura das estações. Num contexto como este, marcado por uma dinâmica tão acelerada, a imagem de equilíbrio que a estação promove pode ter sido deliberadamente buscada para contrastar com o caos do entorno, oferecendo-lhe alguma estruturação. Mas o arranjo absolutamente simétrico da fachada mostra, ao contrário, um discutível alheamento ao contexto e uma forte resistência à instabilidade e ao movimento contínuo que o define. Obediência a eixos e frontalidade, num campo tão altamente tensionado, embaralhado e dominado pelo improviso? Espaços fechados, rigidamente delimitados e compartimentados, que dificultam qualquer adaptação ou uso imprevisto, agora ou no futuro? A questão, mais uma vez, está na dificuldade de lidar com situações urbanas entrópicas e modos de ocupação que escapam a qualquer formalização, no sentido tradicional, engendrando continuamente configurações fluidas, complexas e mutantes.

Evidentemente, o custo de instalação e operação de todo o sistema não deve ser baixo - e pode-se discutir até que ponto se justifica, em função do número de pessoas efetivamente transportadas e da dependência de investimentos permanentes em manutenção, dificilmente sustentáveis a longo prazo. Mesmo assim, entendo que o teleférico é uma tentativa válida de encontrar solução para os graves problemas de acessibilidade das favelas cariocas, buscar a aproximação entre diferentes formas de ocupação da cidade e aumentar a presença do poder público em áreas críticas. Mas enquanto miro minha lente para baixo, num voyeurismo quase infantil, não tenho como não pensar também no efeito inverso: não há ninguém sobre as lajes, essas lajes que parecem ser justamente o espaço de maior liberdade do Alemão, por oferecer - até aqui, pelo menos - um território protegido de privacidade e sociabilidade de que suas casas e ruas não dispõem. Mas pode ser só porque chove, claro.